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domingo, 14 de agosto de 2011

HELLo Escola

Você consegue se lembrar de como era a sua vida na época da Escola? Lembra dos seus amigos, das piadas internas, colegas, professores, aulas, brigas, desavenças ... Tem certeza?

Vida de colégio é no mínimo ... Sobrenatural. Se a Escola fosse feita só de livros, a  vida para algumas pessoas poderia ser muito mais simples.

Foi assim que imaginei a Escola: Um repositório de conhecimento sem limites que poderia saciar minha sede de descoberta. No meu primeiro dia de aula não olhei para trás e nem chorei como normalmente fazem as crianças pequenas quando entram para a Escola pela primeira vez. Simplesmente segui em frente. E então eu topei com as pessoas! Inquietamente repletas de achismos e julgamentos. E ainda eram crianças... daquelas com potencialidade para o mal à flor da pele.

A boa da verdade é que crianças são naturalmente cruéis. Elas são pequenos tiranos que ainda não foram socializados. Por isso que a Escola pode ser um verdadeiro inferno na Terra para muita gente. Afinal crianças podem ser capazes das maiores atrocidades com seus coleguinhas e não sentir remorso algum. A gente vai perdendo a psicopatia aos poucos.

Crianças normalmente só são capazes de perceber que alguma coisa é diferente. A valoração da maldade é por conta dos adultos. Assim nascem os preconceitos que, normalmente, são legitimados dentro de casa. A gente aprende a ser  preconceituoso, a internalizar valores iníquos e egocêntricos que deixariam o qualquer vilão de História em Quadrinho escandalizado.

Para grande parte das pessoas terminar a Escola é simplesmente libertador. É a chance de se livrar daquele mundinho inteiro e começar algo novo. E mesmo assim, depois que a vida escolar termina, demora um pouco para notar que acabou. Quando estamos imersos nela é muito difícil ver o mundo lá fora.

Além disso, quando se é jovem, se pensa que tudo é para sempre! Que tudo é irremediável, urgente, eterno, perfeito, incompreensível, máximo, infinito, importante. O Tempo? “Será nosso e tudo vai durar, nunca vai acabar!” A Vida é pílula, o “não” é tirano e dez anos são milênios. A generalidade é tom e a genialidade é cativa da nossa geração. Tudo que é passado é ultrapassado e o antigo é de outro mundo, é alienígena... E isso tudo acaba cercando a visão de uma realidade maior, além dos muros, das carteiras e do cuspe e giz da sala de aula.

É possível compreender! Imagina ficar imerso naquele cotidiano maçante, exatamente igual, com as mesma piadinhas e pessoas por mais de uma década que consiste em praticamente toda a sua vida até aquele momento? É natural não perceber que aquilo um dia vai acabar e provavelmente você nunca mais vai ver nenhuma daquelas pessoas novamente. Tanto é assim que é exatamente nessa época que você, se tiver a sorte de ter algum amigo, faz promessas eternas de amizade. E finalmente quando você cresce percebe que aquelas promessas e aqueles pensamentos era uma meninice impraticável. A  vida simplesmente segue e nunca olha para trás.

Grupos existem em qualquer lugar. Gente grande normalmente se aglutina por afinidade. Gente jovem se aglutina por status. Quando ficamos adultos esquecemos de que a Escola é basicamente toda a sociedade em que os jovenzinhos vivem. Não há nada além daquilo.  É um ambiente de todos os dias ... onde todos se conhecem e onde nada fica encoberto. Os infantes acabam por preferir estar em um grupo que não tem nada haver com eles do que estarem sozinhos e excluídos. Para terem um amigos eles são capazes de aceitar qualquer coisa.

A organização dos grupinhos, corriqueiramente conhecidos como “panelinhas”, normalmente é pautada em critérios bem taxativos e recheados de visões distorcidas. Basicamente tem-se : patricinhas, vagabundos, bagunceiros, os que dormem, cdfs , esforçados, mocinhos, os vilões, roqueiros e nerds potencialmente deslocados e razoavelmente felizes ...

Alguns exemplos de visões distorcidas muito comuns e genéricas :

Patricinhas : Altamente superficiais e fúteis. Não sabem distinguir o tipo de gráfico entre funções de primeiro e de segundo grau. São as estupidamente burras e frágeis que dão mais valor a um sapato do que os ideias da Revolução Francesa. São elas que jogam um charminho para os outros na tentativa de que eles façam as tarefas e deveres delas.

Vagabundos: São aqueles que não querem nada com a Hora do Brasil. Preferem matar aula... São os turistas que nunca sabem de trabalho nenhum, de prova nenhuma e que jogam a culpa da sua ignorância em relação as tarefas e prazos para cima das outras pessoas : “Mas professora! Ninguém me avisou!”

Bagunceiros : Dispensam comentários. São aqueles que não conseguem assistir uma aula. Levantam, conversam, implicam, brigam, aprontam e normalmente não deixam as outras pessoas que estão interessadas assistirem a aula em paz. São eles que normalmente criam os  apelidos e implicam com as pessoas mais indefesas.

Os que dormem: São sonhadores! Mas não ... não são os idealistas. São aqueles que dormem mesmo. Aqueles que chegam na escola com a cama nas costas. Fecham os olhinhos quando a aula começa, babam, sonham, passam por todas as fases do sono, roncam e são acordados para ir embora. Geram ódio eterno nos cdfs quando conseguem tirar as notas mais altas da classe.

Esforçados : São aqueles que por mais esforçados que sejam ... nunca conseguem tirar boas notas ou responder as perguntas de forma correta na frente da turma ou que não notam as coisas mais óbvias por mais que as explicações se repitam.

Mocinhos : São os típicos “nice guy”. Aquele tipo irritantemente perfeito, carismático e que todo mundo adora. Eles falam com todo mundo porque são gentis e aparentemente não possuem desavenças com ninguém. São os que apaziguam brigas e conectam todo mundo em momentos difíceis. Provavelmente serão os representantes de turma.

Vilões : São aqueles caras malvados totalmente antagônicos aos mocinhos. São antissociais e procuram fazer da vida das pessoas um inferno. São diferentes dos bagunceiros que são simplesmente levados. Vilões fazem as coisas com a má-fé típica do Lado Negro da Força.

Roqueiros/Góticos/Emos : Basicamente são aqueles ligados em algum tipo de música da moda que procure mostrar revolta, depressão, desesperança e morbidez. Aquelas pessoas esquisitas, com acessórios estranhos, roupas depressivas podendo ou não ser monocromáticas.

CDFs : A sigla dispensa apresentações. São aquelas pessoas perfeccionistas, estudiosas e potencialmente neuróticas. Eles se matam de estudar e praticamente comentem suicídio se tirarem alguma nota abaixo de 10. Não ... não adianta pedir cola para eles e nem pedir que eles façam o seu trabalho. Eles acima de tudo são orgulhosos e metidos à besta.

Nerds : São aqueles taxados de esquisitos, deslocados e a margem da sociedade. Um mito muito comum. Ele só são pessoas extremamente curiosas e que apostam suas energias vitais em assuntos de seu interesse (que podem incluir alienígenas, filmes, desenhos, história, tecnologia etc ). Nerds têm seus próprios meios de interação social muito embora seja um clichê muito comum achar que eles são gente “socialmente inapta”. É simples : Nerds  se relacionam com outros nerds da mesma espécie.

Mas isso são ideias totalmente distorcidas. Quem foi que disse que os nerds não podem ser “nice guys” ou que patricinhas não podem ser cdfs? Ou até mesmo que mocinhos não podem ser vagabundos ou que vilões não podem ser patricinhas?! Dá para fazer uma combinação mental de todas as possiblidades possíveis. Pois é ... e tudo gira em torno de valores perturbadores não é mesmo?! Provavelmente esses grupinhos não tem características tão taxativas. As pessoas usam esses estereótipos para julgar as outras e serem más de forma gratuita. Só porque se é diferente. E  se você não se enquadrar em grupinho nenhum?! Então pode dizer adeus a qualquer indício de vida social dentro de um colégio. Lá não há lugar para invisíveis.

A despeito de tudo ainda temos os Valentões que são mais antigos do que a própria Escola. Eles são aqueles caras que batem nos mais fracos, intimidam, xingam, gritam e roubam. São aquelas garotas que espalham comentários, excluem socialmente a vítima da turma, ridicularizam o modo de vestir, falar ... São aqueles que desprezam os outros por causa de uma etnia, religião ou incapacidade...  Lembra disso?

Fora os momentos de desespero (vésperas de provas, entregas de trabalhos e informações privilegiadas das fofocas cotidianas) e de violência gratuita, os grupos de uma escola não interagem entre si. É importante ressaltar que a Violência gratuita sempre existiu mas só recentemente que as situações em que ela se configuram foram devidamente catalogadas e taxadas do mais recente neologismo pedagógico “bullying”. Que atire a primeira pedra a única pessoa que não sofreu implicâncias ou mesmo as praticou na Escola!

Bullying além de ser uma palavra difícil de se acertar a grafia de primeira é uma moda. Incrível perceber que as pessoas realmente faziam vistas grossas para o que acontecia dentro das escolas do mundo. A questão da Violência entre estudantes (e até mesmo de professores para com estudantes) é um fenômeno mundial e histórico. Mas parece que o mundo começou a encarar os fatos com maior seriedade quando as vítimas dessas práticas de humilhação, intimidação e maldade resolveram retaliar os seus agressores e das pessoas indiferentes e omissas que viam seus sofrimentos.

Casos bárbaros de Bullying que resultaram em vingança já tinham sido noticiados desde o início da década de 90 do século passado. Um caso famoso inspirou uma balada “Jeremy” (Pearl Jam) para homenagear Jeremy Wade Delle que se matou em 1991 quando tinha 15 anos no Texas dentro da sala de aula na frente de 30 colegas e da professora como forma de protesto pela perseguição que sofria todos os dias pelos seus colegas. A música também foi feita em homenagem a Brian que saiu atirando dentro da sala de aula da universidade onde um dos compositores da música estudava.

Outros casos importantes ocorreram em 1998 quando em Springfield quando um estudante de quinze anos matou os pais e entrou na sua escola matando dois alunos e ferindo 22.  Nesse mesmo ano no Arkansas dois meninos de 11 e 13 anos entraram na escola disparando o alarme de incêndio para matar quatro alunos e uma professora que deixavam o local.

Até esse momento esses fatos assustadores eram considerados casos isolados e cheios de “condições”, “especificações”. Bullying começou mesmo a chamar a atenção em 20 de abril de 1999 no famoso “Massacre em Columbine” onde dois adolescentes promissores e de boa família mataram 13 pessoas, feriram 21 e depois se suicidaram motivados por vingança contra as pessoas que os intimidavam e ridicularizavam. Houve uma grande repercussão na época e um documentário de grande amplitude foi feito o que acabou chocando o mundo e fez muita gente coçar os cérebros e ver até que ponto uma simples provocação “inofensiva”pode desestabilizar emocionalmente um jovem ao ponto de gerar um extravasamento violento e impactante.

Depois disso virou moda as vítimas de Bullying fazerem demonstrações pública de raiva contida. A primeira década do novo século estava repleta de episódios de atiradores em escolas no mundo Inteiro.
Em 2007 Seung-Hui Cho matou 32 pessoas da comunidade universitária onde fazia parte na Universidade Virgínia Tech. No mesmo ano na Finlândia um adolescente de 18 anos, Pekka-Eric Auvinen, simplesmente atirou em 8 pessoas e depois se matou. Ele havia anunciado seus planos anteriormente no YouTube. Em 2009 Tim Kretschmer de 17 anos na Alemanha matou quinze pessoas do seu colégio e depois também se matou. A moda pegou até as nossas terras tupiniquins no início de uma nova década no Rio de Janeiro quando um ex-aluno começou um tiroteio numa escola pública em Realengo matando várias crianças.

Tudo bem ... são casos extremos mas dá para ter um vislumbre sobre o que abusos verbais e psicológicos podem causar numa mente que está em formação. E agora ainda existe uma “upgrade” nessas práticas o chamado CyberBullying onde se usa a WEB para criar perfis “fakes”  em redes sociais ou sites de compartilhamento de vídeos e fotos a fim de ridicularizar as vítimas em escala viral. Normalmente essa prática é tão impactante que as vítimas acabam cometendo suicídio.

Diante de tudo, repito a pergunta: Você lembra do seu tempo de escola? Lembra de ter zuado ou excluído alguém  por não fazer parte da sua panelinha?! Lembra de ter visto alguém sendo vítima de algum tipo de violência ou provocação e não ter feito nada ?!
Realmente é possível pensar quais são os limites da escola. Eles são exatamente aqueles que a nossa maldade permite.

Thaís Parméra

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