O único sobrevivente
da Operação Condor no Brasil,
o plano secreto das
Ditaduras Sul-Americanas
Salve
os 90 anos de vida de António Louro, ativista social e cultural da Resistência
Civil Pacífica em defesa dos Direitos Humanos, uma das vítimas da operação
Condor, que considero meu herói, guru e meu professor de liberdades, justiça e
amor, o que nenhuma faculdade ensina e sim a convivência. Continua no Rio de
Janeiro, casado com uma brasileira com quem teve uma filha, médica, infelizmente
falecida, hoje aos 90 anos continua ativo nas lutas, presidente fundador da
AMIHCOL e Instituto Saramago das Américas.
Filho
de um Guarda Nacional Republicano, cresceu na zona oriental de Lisboa. Aos 13 anos já era operário da Fábrica do
Braço de Prata, de armamento, onde os turnos chegavam a 12 horas. Nos tempos
livres ia à escola industrial Afonso Domingues, onde foi colega de José
Saramago.
As
fábricas tinham comunistas infiltrados a politizar os trabalhadores, e António
começou a colaborar com o partido (PCP). Considerado demasiado reivindicativo,
veio a sair da fábrica em 1952, depois de um acidente em que vários operários
ficaram feridos. A PI DE (polícia política portuguesa) estava no seu encalçe e
em 1956 foi preso quando fazia pichagens contra a ditadura. Depois dos
interrogatórios, com espancamentos e isolamento, esteve detido por seis meses
em Caxias. Saiu e voltou a ser preso outros seis meses.
Em 1957
exilou-se em Paris até uma incompatibilidade com Sérgio Vilarigues, seu
«controleiro» do PCP, levar à cisão. O principal motivo foi a visão
paternalista que os comunistas tinham dos movimentos de independência das
colônias portuguesas em África; queriam ser eles próprios a fazer cair o regime
e a dar independência às colônias. Por seu lado, António queria que apoiassem
os movimentos locais - MPLA (Angola), PAIGC (Guiné Bissau e Cabo Verde) e
Frelimo (Moçambique) —, deixando-os lutar por si mesmos.
Em 1960, a União Nacional de Estudantes brasileira,
associação acadêmica de esquerda, convidou-o para representante junto dos
movimentos de independência das colônias portuguesas. Acabaria por ficar no
Brasil, onde conseguiu trabalho em engenharia naval. A 31/3/1964 aconteceu o
golpe militar que forçou o presidente João Goulart ao exílio no Uruguai e
depois na Argentina, onde se suspeita que terá sido morto pela Operação Condor
- na versão oficial, «ataque cardíaco» (o corpo foi exumado em 2013 e à data de
fecho deste livro estudava-se a hipótese de envenenamento).
Poucos
dias após o golpe, o estaleiro onde António trabalhava foi invadido por
fuzileiros, que o prenderam novamente. Acusado de ser espião de Angola, foi
interrogado pelo DOPS (política) no centro do Rio de janeiro, e torturado,
conta ele, frente a um oficial da PIDE chamado Pasmos. Ali ficou um mês e meio
com o guerrilheiro marxista Carlos Marighella, que veio a ser morto pela
ditadura e se tornou um símbolo no Brasil.
Levado
para a prisão da Ilha das Cobras, na baía da Guanabara, cruzou-se com outro
nome célebre, o «Cabo Anselmo», um agente infiltrado que ajudava os militares a
capturar opositores. Solto passado três meses, trabalhou em várias empresas de
construção naval.
Em
Abril de 1974 deu-se a revolução em Portugal e António decidiu ir lá. Ao voltar
ao Rio de Janeiro a Polícia Federal disse-lhe que tinha de embarcar para Buenos
Aires. Mostrou os papéis em ordem e ameaçou ligar ao seu advogado. Deixaram-no
ir, mas terá sido o momento, diz, em que a Operação Condor já estaria atrás
dele: uma tentativa de os entregar aos argentinos.
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