Inferno é algo tímido, curioso, enigmático. Para uns é eterna
perdição, para outros um território admirado, cultuado, cultivado, o senhor de
todos os desvios éticos e morais, o prenúncio do prazer.
Inferno é um
livro que queima, impróprio e desvirtuado. Suas páginas não podem ser lidas,
tocadas, extraídas, amassadas, incineradas. Ocultam verdades que não podem vir
à tona.
Inferno é o
suposto reino de satanás e seus anjos malvados, habitando o inflado aconchego
do ego humano.
Inferno é o
rosto da criança amedrontada exposta a toda forma de indignidade. É a amargura
do ancião irrealizado, quase sem vida. É a ausência de luz e o eco das trevas.
Inferno é o
burburinho dos fanáticos e a algazarra dos seus líderes fajutos, cheios de prepotência,
poder econômico e pseudas profecias, infestados de alucinações infernais.
Inferno é o
grito dos excluídos, a falsidade dos políticos, a insensatez dos sem caráter, a
dor que não passa, a insônia esvaziando a noite, o velório da justiça e o enterro
da honestidade.
Inferno é o
apocalipse do homem avarento, orgulhoso, bandido, hipócrita, mesquinho e
corrupto.
Inferno é o
pecado estampado na face de muitos que proclamam a palavra de Deus. Estão na
verdade ironizando versículos bíblicos.
Inferno é a
teologia que engana e a filosofia que aliena. O sistema que fomenta as mazelas
sociais e delas se alimenta. É o glamour da sensualidade e o status da
devassidão.
Inferno é o
tiro da polícia matando inocentes, aterrorizando as comunidades, assombrando as
pessoas de bem, assassinando a quem devia proteger. Inferno é a celebração do
crime de mãos dadas com a polícia.
Inferno é o
crime organizado organizando a sociedade. É a pomposa maquiagem social do
moderno anticristo, cheio de seguidores, de servos fiéis, porém ímpios.
Recrutados após serem seduzidos por gestos estratégicos e palavras levianas.
Inferno é a
essência corrupta e a ousadia dos desonestos. É o martírio de quem faz o certo,
o calvário da prostituta e a lascívia dos que dela se aproveita.
Inferno são
as segundas intenções que dançam na mídia.
Inferno é o
tema da moda, o som do egoísmo, a simbiose do desamor, o estante pornográfico.
Inferno é o
desequilíbrio das nações, as doenças emocionais, a imposição do estresse.
Inferno é o
sangue derramado sem causa aparente, o corporativismo da justiça, o cárcere das
enfermidades, a prisão dos sem culpa, a maldição das intrigas.
Inferno
somos nós, com nossas manias de grandeza, nossa inconsciência espiritual,
nossos vícios.
Inferno é
loucura íntima, o tumor que não cessa, o perdão que não chega, o sumiço da paz.
É o descaso com a natureza, as fezes do preconceito, o mau cheiro da corrupção,
o apego ao dinheiro, a ganância do poder, a escuridão da alma.
Inferno são
certos segredos de estado, a indústria da morte, o apogeu
da discórdia, o extremismo, a violência.
Inferno é a
falta de fé, a horrenda sensação dos que nada tem. É a fome em alta escala, a
miséria absoluta.
Inferno são
os poderosos demônios mentais, a obsessão psicológica, a síndrome do medo
irracional.
Inferno é o
abandono da vida. Inferno é a consciência em desespero.
Waldir José
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