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sábado, 28 de novembro de 2015

AYLAN KURDI PARA SEMPRE

Para sempre a vida extirpou-se depois que as incongruências humanas tornaram-se explícitas, se entrelaçaram e bombardearam normas estabelecidas, acordos fechados. Para sempre o mundo desabou sobre uma multidão de pessoas que sofreram violentos impactos e despedaçaram suas almas. Para sempre nos rastros do tempo a União Europeia (UE) terá uma imensa cicatriz, difícil de ser apagada e impossível de ser esquecida.

Para os críticos e insensíveis aos sofrimentos alheios o assunto aqui abordado pode ser muito emocional, considerado piegas e até mesmo ingênuo, simplista, porém não escrevo para críticos e pessoas insensíveis muito embora as respeite. Escrevo e falo a quem lê e ouve com generosidade e possui coração amoroso. Me reporto a quem em meio ao materialismo e a brutalidade dos dias atuais não perdeu o senso de humanidade.

Desde a 2ª Guerra Mundial a União Europeia não assistia a uma crise descomunal de fugitivos e o que é pior, uma crise criada por ela mesma, fomentada debaixo do próprio nariz. Ao violar normas que regularizam o asilo de refugiados e afrontar o famoso Protocolo de Dublin assinado em 1999, países do bloco leste adotaram uma postura política radical traindo deveres do Direito Internacional de proteger e não devolver refugiados. Com exceção da Alemanha que tenta o diálogo e busca alternativas como por exemplo a criação de cotas, para que milhares de fugitivos sejam colocados entre os 28 países da (UE), o bloco leste continua rígido em seu posicionamento e ignora a proposta movimentando-se em direção ao fechamento de suas fronteiras. Por sua vez o Reino Unido bloqueou o Eurotúnel com o intuito de não receber essas pessoas. Já o antigo bloco comunista formado pela Hungria, Eslováquia, República Tcheca e Polônia planejam uma ação em conjunto visando enfraquecer a Alemanha que pretende revitalizar o Protocolo de Dublin.

Na polarização da linha de conflito autoridades do bloco leste sustentam uma retórica permeada por argumentos truncados e preconceituosos fazendo uso de pesados adjetivos e postura autoritária. O Primeiro-Ministro Húngaro, Vikitor Orban compara os fugitivos a uma possível “infecção”. O Ex-Presidente Tcheco Milos Zuman afirma que os fugitivos são uma “grande ameaça” principalmente os de origem mulçumana e por último, o Premier Eslovaco, Roberto Fico, classificou a possiblidade de asilo uma “guerra maluca”

Aylan  Kurdi
Enquanto os perecíveis poderes humanos não se entendem a foto do menino sírio Aylan Kurdi morto por afogamento em 2 de setembro deste ano comoveu o mundo. De bruços e inerte numa praia do balneário de Boldrum na Turquia, o pequeno corpo de 3 anos parecia flutuar imerso num mar de lágrimas na imaginação daqueles que como eu lamentam o profundo desequilíbrio da civilização, a crise migratória em questão e a intransigência dos homens. As ondas que afagavam a criança eram talvez o único alento e a rara beleza da triste cena que figurará para sempre registrada no âmago da nossa história. Aylan no esplendor da sua sagrada inocência e meiga infância com certeza não entendeu nada apenas abraçou involuntariamente a essência da morte devido a grotesca circunstância a qual foi submetido. 

Este triste episódio prova-nos que na realidade o mundo dos humanos vem se transformando a cada dia numa compulsória eutanásia coletiva, num pesadelo existencial quase sem espaço para o bem onde os mais frágeis são reféns e pagam pelos erros dos aparentemente mais fortes. Ao tentar alcançar a ilha grega de Kos justamente com seu irmão Gallap de 5 anos, Aylan Kurdi partiu para sempre. Quem sabe em direção a um plano existencial mais terno e promissor que o nosso deixando sua emblemática imagem como símbolo indiscutível da nossa grotesca prepotência e imensa pequenez. A nefasta cena protagonizada pelo menino sírio simboliza também as milhares de crianças que são mortas todos os dias no Brasil e no mundo por falta de um espaço digno para sobrevivência sendo vítimas da fome, da miséria, das doenças, da violência urbana, do trabalho escravo, do abandono do Estado e das mentes doentias que infelizmente ainda povoam o planeta Terra.


Fique em paz Aylan Kurdi, para sempre. Desculpe a nossa insensatez e monstruosidade.

By Waldir José

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