Para sempre a vida extirpou-se
depois que as incongruências humanas tornaram-se explícitas, se entrelaçaram e
bombardearam normas estabelecidas, acordos fechados. Para sempre o mundo
desabou sobre uma multidão de pessoas que sofreram violentos impactos e
despedaçaram suas almas. Para sempre nos rastros do tempo a União Europeia (UE)
terá uma imensa cicatriz, difícil de ser apagada e impossível de ser esquecida.
Para os críticos e insensíveis
aos sofrimentos alheios o assunto aqui abordado pode ser muito emocional,
considerado piegas e até mesmo ingênuo, simplista, porém não escrevo para
críticos e pessoas insensíveis muito embora as respeite. Escrevo e falo a quem
lê e ouve com generosidade e possui coração amoroso. Me reporto a quem em meio
ao materialismo e a brutalidade dos dias atuais não perdeu o senso de
humanidade.
Desde a 2ª Guerra Mundial a União
Europeia não assistia a uma crise descomunal de fugitivos e o que é pior, uma
crise criada por ela mesma, fomentada debaixo do próprio nariz. Ao violar
normas que regularizam o asilo de refugiados e afrontar o famoso Protocolo de
Dublin assinado em 1999, países do bloco leste adotaram uma postura política
radical traindo deveres do Direito Internacional de proteger e não devolver
refugiados. Com exceção da Alemanha que tenta o diálogo e busca alternativas
como por exemplo a criação de cotas, para que milhares de fugitivos sejam
colocados entre os 28 países da (UE), o bloco leste continua rígido em seu
posicionamento e ignora a proposta movimentando-se em direção ao fechamento de
suas fronteiras. Por sua vez o Reino Unido bloqueou o Eurotúnel com o intuito
de não receber essas pessoas. Já o antigo bloco comunista formado pela Hungria,
Eslováquia, República Tcheca e Polônia planejam uma ação em conjunto visando
enfraquecer a Alemanha que pretende revitalizar o Protocolo de Dublin.
Na polarização da linha de
conflito autoridades do bloco leste sustentam uma retórica permeada por
argumentos truncados e preconceituosos fazendo uso de pesados adjetivos e
postura autoritária. O Primeiro-Ministro Húngaro, Vikitor Orban compara os
fugitivos a uma possível “infecção”. O Ex-Presidente Tcheco Milos Zuman afirma
que os fugitivos são uma “grande ameaça” principalmente os de origem mulçumana
e por último, o Premier Eslovaco, Roberto Fico, classificou a possiblidade de
asilo uma “guerra maluca”
Aylan Kurdi |
Enquanto os perecíveis poderes
humanos não se entendem a foto do menino sírio Aylan Kurdi morto por afogamento
em 2 de setembro deste ano comoveu o mundo. De bruços e inerte numa praia do
balneário de Boldrum na Turquia, o pequeno corpo de 3 anos parecia flutuar
imerso num mar de lágrimas na imaginação daqueles que como eu lamentam o
profundo desequilíbrio da civilização, a crise migratória em questão e a intransigência
dos homens. As ondas que afagavam a criança eram talvez o único alento e a rara
beleza da triste cena que figurará para sempre registrada no âmago da nossa
história. Aylan no esplendor da sua sagrada inocência e meiga infância com
certeza não entendeu nada apenas abraçou involuntariamente a essência da morte
devido a grotesca circunstância a qual foi submetido.
Este triste episódio
prova-nos que na realidade o mundo dos humanos vem se transformando a cada dia
numa compulsória eutanásia coletiva, num pesadelo existencial quase sem espaço
para o bem onde os mais frágeis são reféns e pagam pelos erros dos
aparentemente mais fortes. Ao tentar alcançar a ilha grega de Kos justamente
com seu irmão Gallap de 5 anos, Aylan Kurdi partiu para sempre. Quem sabe em
direção a um plano existencial mais terno e promissor que o nosso deixando sua
emblemática imagem como símbolo indiscutível da nossa grotesca prepotência e
imensa pequenez. A nefasta cena protagonizada pelo menino sírio simboliza
também as milhares de crianças que são mortas todos os dias no Brasil e no
mundo por falta de um espaço digno para sobrevivência sendo vítimas da fome, da
miséria, das doenças, da violência urbana, do trabalho escravo, do abandono do
Estado e das mentes doentias que infelizmente ainda povoam o planeta Terra.
Fique em paz Aylan Kurdi, para
sempre. Desculpe a nossa insensatez e monstruosidade.
By Waldir José
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