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domingo, 27 de abril de 2014

ESTATUTOS DO NOVO HOMEM

UM HOMEM CONTRA AS TREVAS


Vidocq Casas

Poesia, a Arte de Resistir

         Escrevi os Estatutos do Novo Homem, em 1966, como um Projeto Esperança da minha Utopia indispensável para o homem viver com dignidade, liberdade e mais humanidade. Passaram-se 42 anos, na época, o nosso Brasil estava sob o tacão da bota opressora da ditadura militar, infelizmente. Era um tempo de sombras, gritos de tortura, opressão e morte, mas também, de resistência e sobrevivência, para vencermos o terror da falta de Liberdade. Publiquei-o, várias vezes, em jornais e impressos e foi traduzido para o inglês, francês, alemão, italiano, espanhol e esperanto, como um grito de Alerta e rebelião, contra as trevas do individualismo, desamor e do materialismo. Males, que ainda, continuam sufocando a liberdade e os direitos humanos fundamentais.

É preciso deixar, bem claro, que consideramos a manifestação criadora, neste mundo globalizado do Século XXI, como o grito humano mais revolucionário, para a defesa da liberdade, justiça e igualdade. Como poeta e ativista social e ecologista, há 58 anos em lutas permanentes, repito que a poesia precisa ser vista, sentida e vivida, como um canal de lutas e ações contra tudo que possa afetar ou tolher o ser humano, no seu direito inalienável de ser, sonhar e viver.
         A poesia representa a força da consciência iluminada do anti-poder, contra as garras ditatoriais do Estado, este monstruoso leviatã que é o Estado-Mercado atual. Ele vampiriza e sufoca o homem, com o garrote implacável dos impostos absurdos, o abandono social e cultural, num massacre de volatizar a cidadania pelos temporais de exclusões que, dia a dia, diluem os direitos do cidadão.
         Sem amor, o homem é uma fera insaciável, na jaula desta sociedade doente de falta de fraternidade. Só consciente de nosso papel de guardião dos valores que contam, venceremos a camisa-de-força deste sistema cruel, comandado por políticos inescrupulosos, subordinados aos banqueiros da globalização da economia, que continuam tentando escravizar e submeter a humanidade.
         Espero, com este Estatuto do Novo Homem, acordar otimismo e esperança, num futuro mais promissor para todos. Como poeta, reafirmo que, todo dia, precisamos abandonar o passado, sair da estagnação do comodismo, apagar todos os fantasmas dos medos e acender a alma, na fogueira do sonho, vivendo com esperança a vida.
         A todos os homens que acreditarem no ressurgimento de um mundo novo, onde o homem poderá falar sem medo, sorrir, ser feliz, e por mais impossível que pareça: ser livre como sua imaginação, sonhos e a luz imperecível de sua alma!
         Quando olho as estrelas e viajo os meus sonhos pelas galáxias, vivo a Terra como a mãe da Vida e não sinto o mundo dividido em nações e raças. Este desafio é a minha Utopia de esperança, solidariedade e amor para o mundo e o futuro serem mais humanos, para a humanidade viver mais feliz e livre!
         Considerando que a Vida deve ser respeitada, e que todo Homem tem direito à sua Liberdade, sem distinção de raça, credo, sexo, idade ou opinião política, e que, sem essas condições, a espécie humana, desprovida de sua dignidade inerente, não poderia atingir o verdadeiro progresso social, fica instituído AD INFINITUM:
Art. 1. Toda vida será respeitada, conservada e glorificada.
Art. 2. Não haverá desigualdades, não podendo os homens ser alvo de preconceitos, e as palavras "rico" e "pobre" serão apenas tristes lembranças de um dia cinzento.
Art. 3. A palavra "opressão" não constará dos dicionários.
Art. 4. No lugar das prisões, construir-se-ão Parques de Lazer, cercados de jardins, onde o canto dos pássaros será a música perene da alegria pela vida inteira.
Art. 5. Fica proibido "proibir", excetuados os casos previstos nestes Estatutos.
Art. 6. Todas as armas serão convertidas em brinquedos e em objetos que possam ajudar a construção de moradias ou a feitura de bens comuns, ficando, assim, banida a violência, para sempre, do coração do homem.
Art. 7. Ninguém poderá derrubar árvores, ou provocar a poluição da Natureza, devendo cada homem constituir-se num vigilante perpétuo dos sistemas ecológicos, em defesa da Bioesfera e da qualidade de vida das gerações presentes e futuras.
Art. 8. A Justiça será substituída pela BONDADE, deixando de existir, portanto, julgamentos, maldade, perseguições, castigos, torturas e crimes, mais surgindo a AURORA RADIANTE DA FRATERNIDADE.
Art. 9. A verdade será um caminho aberto, transparente, onde todos os homens transitarão como IRMÃOS.
Art. 10. O AMOR deixará de ser impossível, para ser a Hora Eterna de cada homem, e ninguém amará sem ternura, ou será violentado em sua vontade, ou aviltado, pois a Esperança representará mais do que um direito permanente: será como o céu sobre nossas cabeças.
Art. 11. A Força do Coração será a ordem geral, podendo, assim, fazer o homem, da Luz de sua Alma, o ESCUDO DE ESPERANÇA do Futuro.
Art. 12. Nenhum homem deverá julgar-se apenas Mestre ou somente Aluno, pois cada um tem quase nada que ensinar e quase tudo que aprender.
Art. 13. Ter-se-á o direito de falar, escrever ou gritar a verdade.
Art. 14. Todas as semanas (aos sábados), comemorar-se-á, festivamente o FIM DO MEDO.
Art. 15. O Dia do Trabalho será substituído pelo Dia da Alegria.
Art. 16. O Esperanto será a língua oficial para o Diálogo Universal.
Art. 17. A PAZ deixará de ser simples utopia dentro do coração do homem, para ser o permanente estado de vigília de sua Alma.
Art. 18. A Soberania será prerrogativa exclusiva de cada nação, tomada com um todo, e não de grupos ou de um tirano.
Art. 19. Fica decretado, em caráter irrevogável, que a Ciência e a Tecnologia somente poderão servir ao Bem Comum.
Art. 20. A Bandeira de cor branca passará a ser o Estandarte ARCO-ÍRIS de todos os homens.
Art. 21. As Crianças terão o direito de brincar quando quiserem, além de se lhes dar efetiva proteção, devendo as Escolas ensinar o AMOR UNIVERSAL.
Art. 22. A Compreensão será a condição essencial para o homem ser chamado HOMEM.
Art. 23. Jamais se admitirá a violação de qualquer dos chamados DIREITOS NATURAIS DO HOMEM, limitáveis apenas pelos mesmos direitos de seus semelhantes.
Art. 24.O símbolo da Justiça será substituído pelo da Fraternidade (DOIS HOMENS SE ABRAÇANDO), a ser colocado no centro de cada praça em todos os pontos do Mundo.
Art. 25. Criar-se-á a FESTA DA VIDA E DO AMOR UNIVERSAL.


O Estatuto do Novo Homem de Vidocq Casas
                                                        O Poeta da Fraternidade
         Um código poético
         Duas coisas que são importantes para o poeta: a poesia e a vida. Por isso, tudo o que gira em torno do ser humano é importante; principalmente, se diz respeito à sua condição humana: liberdade, crença, pensamento, opinião.
         No momento atual, o ser humano vem sendo malaxado pela violência, medo e poluição. Mas, o que é mais aviltante, o homem vem sendo torpedeado na sua condição humana. E, reduzido paulatinamente, no seu espaço existencial, vai-se aplastando numa massa informe, composta de – apenas - "insumos" básicos de valor duvidoso sob pressão da técnica o homem de certo explodirá como um belo, perfeito e insensível andróide. Sem alma e sem espírito.
Contudo, sempre há uma esperança.
         Vidocq Casas - uma espécie de Tomas Morus ressuscitado das cinzas, se universalisou com seu importante documento o ESTATUTO DO NOVO HOMEM (DITADO PELA POESIA).
         Sem dúvida, uma tomada de consciência poética contra a redução do homem à condição de mero produto da civilização tecnológica, sem os suportes do amor.
         Um trabalho sério, ao mesmo tempo de poeta e filósofo que semeia pássaros, flores, luzes, cores e amor; que planta crianças na solidão do homem; que substitui a Justiça (no sentido material) pela bondade; que risca a palavra "opressão" dos dicionários; que converte as armas em brinquedos maravilhosos; que reconstitui o mundo com os estilhaços de uma bela e superada metáfora.
         O motivo desse Estatuto do Novo Homem não é contudo o arcabouço da poética de Vidocq Casas, pois o poeta existe mesmo sobre a ruína, a maldade, o artificial. O motivo é o seu grande sentido pessoal, que mostra não apenas a redução do espaço existencial do homem, mas o esfacelamento do próprio espírito do universo. Para ele, Vidocq, seria indiferente o atual estágio por que passa o homem, se não fosse a sua preocupação com o próprio ser vivo, como inquietação cósmica de onde a vida poderá novamente brotar.
         Este Estatuto do Novo Homem (Ditado pela Poesia) é para ser lido e pensado, porque antes de tudo ele é uma cartilha poética onde começaremos nosso aprendizado de amor e respeito ao homem como um ser essencialmente poético.


Emil de Castro*

         * Emil de Castro é poeta, escritor, ex-secretário de Cultura e ex-Prefeito de Mangaratiba, RJ., além de militante ecológico ativo e fundador do PDT. Membro Honorário do MCT.

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