Existem pessoas que cultivam o péssimo hábito de viver a vida dos
outros e alimentando-se indevidamente das falhas, fraquezas, conquistas e até
das virtudes alheias esquecem de viver a própria vida, ou seja, não direcionam
o olhar para o próprio umbigo.
O costume de
questionar, criticar negativamente, contextualizar e visualizar de forma
pejorativa o cotidiano do próximo torna-se para alguns indivíduos (que não têm
o que fazer) uma necessidade existencial, um mantra sagrado. Denegrindo,
escarnecendo ou ironizando os demais acreditam que ocultam os próprios
defeitos, deslizes e severas distorções de caráter dos quais muitos deles não
são possuidores, independente do nível socioeconômico que ocupam, da epiderme
que reveste o esqueleto e do estilo cultural e intelectual ao qual estão
inseridos. Aliás, o fato de ficar bisbilhotando o modo de ser e agir dos
vizinhos, amigos e familiares prova de antemão o quanto esses elementos são perniciosos,
abusados, mal educados e nocivos ao ambiente em que vivem.
Analisar, mapear e
roteirizar a vida dos outros sob a tutela da inveja ou do pouco caso costuma
trazer sérias consequências como múltiplas discussões e processos judiciais
geralmente causados por bulling, injúria, calúnia, difamação e invasão de
privacidade, isso sem contar os perigosos acertos de contas pessoais que podem
variar entre um mero bate boca a situações mais graves como violência extrema e
óbitos dos envolvidos. Desse modo fica claro que observar a vida do semelhante
desfocado de critérios morais e éticos gera efeito colateral disseminado
através de uma onda de comentários indevidos e tendenciosos que podem declinar
para o indesejável território das intrigas ocasionando expressivos conflitos
interpessoais.
Um outro aspecto que
estimula a especulação da vida dos outros resume-se ao campo tecnológico e ao
cenário virtual devido ao alto grau de exposição nas redes sociais. Servindo-se
dos modernos avanços da tecnologia os exibicionistas cibernéticos postam
mínimos detalhes de suas vidas e da dos outros abrindo espaço para proliferação
de inúmeros pensamentos e gracejos dos que acessam diariamente milhares de
fotos e vídeos que podem ser amplamente armazenados e compartilhados pela
internet, ocasionando quase sempre quebra de intimidade e profundos
aborrecimentos.
A grande disciplina
que a vida nos impõe resume-se a saber vivê-la com graça e decência, cumprindo
com nossos deveres, cobrando nossos direitos. É preciso viver com senso de
responsabilidade, moldando nosso caráter com intuito de praticar e estimular o
que é certo, aquilo que nos proporciona tranquilidade de consciência e bem
estar coletivo. Pensar sistematicamente na vida dos outros quando não for para
ajudar imbuído de objetivos escusos não é uma maneira salutar de
desenvolvimento humano, e sim algo penoso para todos. Cada indivíduo tem o
direito e a obrigação de cuidar da própria vida e lógico, o dever de esquecer
definitivamente o que os outros fazem, a menos que esteja diretamente inserido
nas ações alheias de forma direta ou indireta, ou que seja atingido por elas,
mesmo assim, cabe a cada um ter discernimento suficiente para separar os fatos
e agir corretamente de acordo com as circunstancias zelando sempre pelo amor a
verdade, fazendo o uso de bom senso.
E então? Vamos
esquecer a vida dos outros? Vai ser bom para eles, vai ser ótimo para nós.
By Waldir José
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