Visitei recentemente um asilo e durante o tempo que permaneci no local
conversando com os internos mais lúcidos e observando aqueles que o passar dos
anos deixou inúmeras sequelas algumas irreversíveis, comecei a pensar sobre o
meu destino, pensei também sobre o seu destino e por último no destino da
humanidade. Fiquei algumas horas por lá perdido nas minhas interrogações de
gente grande, perambulando entre pessoas que já foram jovens, tiveram sonhos,
tiveram amores, filhos e família. Pessoas que viveram a euforia da mocidade e
que agora enfrentam sozinhas o destemido despertar da decrepitude. Pessoas,
simplesmente pessoas, caminhando vagarosamente na real ponte de transição entre
um estágio e outro, entre a solidão do agora e as incógnitas do amanhã.
Ao sair do asilo
vislumbrei conscientemente o limiar da senilidade, um acontecimento inexorável
e intimamente ligado a vida que vivemos. Nos meus pensamentos daquela tarde de
domingo iluminada pelo dourado do sol, emoldurada pelo ar do inverno, não havia
espaço para analisar racionalmente o abandono dos idosos pela prole e pelo
poder público. Não questionei os problemas existenciais porém destaquei
mentalmente o desafio de viver uma realidade que todos nós teremos que
enfrentar. Foquei as sensações internas inerentes a nossa espécie que eclodem
com o prelúdio da idade-avançada materializando-se nas rugas naturais e nas
diversas limitações que ocorrem junto as dobras do tempo.
Encarar o estado senil
com um sorriso nos lábios e bom senso não é uma das tarefas mais fácil. Além de
uma ousada pré-disposição íntima, espírito aguerrido e sabedoria para discernir
comportamentos, há necessidade de auto aceitação mantendo uma convivência sadia
com os impulsos subjetivos que na maioria das vezes enganam e são motivos de chacotas
desagradáveis. Para que isso não aconteça o idoso precisa estar envolvido numa
atmosfera de carinho, principalmente tendo o aconchego familiar como uma
constante em sua vida. A sua saúde física e emocional deve ser monitorada por
profissionais e acompanhada por pessoas de confiança e amigos. O abandono ou
indiferença não é uma forma digna de relacionamento com os idosos tornando-se o
estopim para o surgimento de uma autoflagelação e incontáveis doenças.
O avanço da nossa
idade não deve ser visto como um problema pois é parte integrante da nossa
natureza. Para os que sofrem com esta espera ou já vivem esta realidade
aconselho uma interiorização dos fatos que só podem ser bem compreendidos e
aceitos através de amadurecimento espiritual, fé e consciência plena de nosso
propósito de vida neste planeta. O problema surge quando o idoso acredita que
não serve para mais nada e é incentivado a manter essa postura por preconceito
da própria sociedade.
Finalizando devo
esclarecer que a senilidade é tão natural quanto a juventude e saber viver
ambas as fases é ter capacidade suficientes para suportar as diversidades da
vida ao mesmo tempo que se adquire coragem para superar obstáculos e força para
saborear o prazer das alegrias.
Celebre a vida hoje,
celebre a vida sempre, celebre a vida agora.
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