O Homo sapiens é uma espécie bem esquisita.
Vive com uma mania contundente de classificar tudo o que existe na natureza e
na sua inventividade.
Até mesmo busca classificar elementos abstratos como
ideias, princípios e valores. Desde há muito tempo que os seres humanos
resolveram classificar a vida e suas manifestações.
A Ciência que estuda a classificação
dos seres vivos é a Taxonomia , que inclui a Sistemática, ambas representando grandes áreas dentro da
Biologia, ou para os nostálgicos e
tradicionais, História Natural.
Várias metodologias foram usadas para fazer essa classificação
como por exemplo a histórica
classificação de Aristóteles ou a revolucionária classificação binominal e
hierárquica de Linneaus ( que nomeia metodologicamente as espécies com dois nomes, um genérico e outro específico)
que persiste até hoje. A tecnologia, desde o século XVIII do bravo botânico
Linneaus, se desenvolveu a um ponto gigantesco de modo que, atualmente, não
existem mais fronteiras para o conhecimento.
A Taxonomia clássica (baseada primordialmente
em características morfofisiológicas) acabou abrindo espaço para novas técnicas
de análise e classificação da biodiversidade, como por exemplo, a Genética
Molecular. Foi realmente uma evolução sem precedentes a oportunidade que o estudo do material
genético das espécies trouxe.
Um dos exemplos ´práticos é propiciar a comparação
do parentesco entre a vida e suas manifestações por meio da Filogenética e
Evolução. E nessa tentativa de tentar
descrever a biodiversidade surgiu um projeto chamado Barcodes Of Life.
Em
traduções literais, ele representa uma
tentativa de gerar um código de barras, iguais aqueles que identificam os produtos nos supermercados,
lojas de conveniência ou farmácias, para
a biodiversidade.
Isso seria possível através
do sequenciamento de um gene mitocondrial, como o próprio nome diz, proveniente da organela citoplasmática
mitocôndria, responsável pela respiração
celular, representando uma explícita
aplicação da Sistemática Molecular na Taxonomia.
A ideia foi lançada em 2003 pelo entomólogo
canadense Paul Hebert. O projeto ambicioso ganhou muitas críticas
principalmente porque a proposta
pretendia eliminar a Taxonomia Clássica tornando a Sistemática Molecular a fonte primordial de
entendimento e classificação da
biodiversidade no planeta.
O problema principal
reside no fato de que a Sistemática Molecular "per si" ao
mesmo tempo que é importante, traz abstrações
que muitas vezes não correspondem à
realidade fática e cotidiana que se observa em
saídas de campo ou em laboratórios que lidam com o organismo em análise em si.
O material genético sozinho
não consegue abranger o organismo por inteiro. Outra questão foi a ideia dos
prazos. Os geneticistas do Barcodes of Life venderam a ideia irreal de
classificar toda a biodiversidade do planeta em 20 anos, coisa que a
Taxonomia Clássica em 250 anos não foi
capaz de fazer.
Tal promessa resultou em
muitos incentivos financeiros por agências de fomento à pesquisa no mundo todo
principalmente porque está na moda a proteção de espécies. A natureza é complexa
e isso enseja que a descrição da biodiversidade seja realmente lenta, mas acreditar que um método incompleto seja a
solução para classificar todas as formas
de vida é um embuste. Soluções rápidas demais são realmente atraentes contudo, é
um fato que a Sistemática Molecular é mais uma ferramenta para a Taxonomia e
não pode pretender substituí-la.
É impossível resumir a biodiversidade a meros
códigos de barra. Já é senso comum que a Taxonomia da Conservação das Espécies
está passando por uma crise, não temos noção de todas as espécies do planeta e
muitas serão extintas antes mesmo de serem conhecidas. Então seria muito mais
sábio usar o Barcode of Life como ferramenta de diagnóstico para essas espécies
ao invés de dispender recursos em abstrações que, na prática, não provocam
avanços significativos para a discussão do mundo natural.
Thaís Parméra - Movimento Conservacionista Teresopolitano
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