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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A Vida em Códigos de Barra?


O Homo sapiens é uma espécie bem esquisita. Vive com uma mania contundente de classificar tudo o que existe na natureza e na sua inventividade. 

Até mesmo busca classificar elementos abstratos como ideias, princípios e valores. Desde há muito tempo que os seres humanos resolveram classificar a vida e suas manifestações. 



A Ciência que estuda a classificação dos seres vivos é a Taxonomia , que inclui a Sistemática, ambas  representando grandes áreas dentro da Biologia, ou para os  nostálgicos e tradicionais, História Natural. 

Várias metodologias  foram usadas para fazer essa classificação como por exemplo a  histórica classificação de Aristóteles ou a revolucionária classificação binominal e hierárquica de Linneaus ( que nomeia metodologicamente as espécies com  dois nomes, um genérico e outro específico) que persiste até hoje. A tecnologia, desde o século XVIII do bravo botânico Linneaus, se desenvolveu a um ponto gigantesco de modo que, atualmente, não existem mais fronteiras para o conhecimento. 



A Taxonomia clássica (baseada primordialmente em características morfofisiológicas) acabou abrindo espaço para novas técnicas de análise e classificação da biodiversidade, como por exemplo, a Genética Molecular. Foi realmente uma evolução sem precedentes a  oportunidade que o estudo do material genético das espécies trouxe. 

Um dos exemplos ´práticos é propiciar a comparação do parentesco entre a vida e suas manifestações por meio da Filogenética e Evolução. E nessa tentativa de tentar  descrever a biodiversidade surgiu um projeto chamado Barcodes Of Life. 



Em traduções literais, ele representa uma  tentativa de gerar um código de barras, iguais aqueles que  identificam os produtos nos supermercados, lojas de conveniência  ou farmácias, para a biodiversidade. 

Isso seria possível através  do sequenciamento de um gene mitocondrial, como o próprio nome  diz, proveniente da organela citoplasmática mitocôndria,  responsável pela respiração celular, representando uma explícita  aplicação da Sistemática Molecular na Taxonomia. 



A  ideia foi lançada em 2003 pelo entomólogo canadense Paul Hebert. O projeto ambicioso ganhou muitas críticas principalmente porque  a proposta pretendia eliminar a Taxonomia Clássica tornando a  Sistemática Molecular a fonte primordial de entendimento e  classificação da biodiversidade no planeta. 

O problema principal  reside no fato de que a Sistemática Molecular "per si" ao mesmo  tempo que é importante, traz abstrações que muitas vezes  não  correspondem à realidade fática e cotidiana que se observa em  saídas de campo ou em laboratórios que lidam com o organismo em  análise em si. 



O material genético sozinho não consegue abranger o organismo por inteiro. Outra questão foi a ideia dos prazos. Os geneticistas do Barcodes of Life venderam a ideia irreal de classificar toda a biodiversidade do planeta em 20 anos, coisa que a Taxonomia  Clássica em 250 anos não foi capaz de fazer. 

Tal promessa  resultou em muitos incentivos financeiros por agências de fomento à pesquisa no mundo todo principalmente porque está na moda a proteção de espécies. A natureza é complexa e isso enseja que a descrição da biodiversidade seja realmente lenta, mas  acreditar que um método incompleto seja a solução para  classificar todas as formas de vida é um embuste. Soluções rápidas demais são realmente atraentes contudo, é um fato que a Sistemática Molecular é mais uma ferramenta para a Taxonomia e não pode pretender substituí-la. 



É impossível resumir a biodiversidade a meros códigos de barra. Já é senso comum que a Taxonomia da Conservação das Espécies está passando por uma crise, não temos noção de todas as espécies do planeta e muitas serão extintas antes mesmo de serem conhecidas. Então seria muito mais sábio usar o Barcode of Life como ferramenta de diagnóstico para essas espécies ao invés de dispender recursos em abstrações que, na prática, não provocam avanços significativos para a discussão do mundo natural.


Thaís Parméra - Movimento Conservacionista Teresopolitano 

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